SCAPAI: STATISTICAL CONTROL FOR AUTOCORRELATED PROCESSES- ATTRIBUTE  INSPECTION  

Um Programa Computacional para Controle Estatístico de Processos Autocorrelacionados 

                                   

     Desenvolvido por:  

Sueli Aparecida Mingoti                                                 

Julia Pinto de Carvalho

Departamento de Estatística – UFMG 

APOIOS FINANCEIROS: CNPq e FAPEMIG. 

O Controle de Qualidade de Processos Autocorrelacionados : Inspeção por Atributos    

 

1.0     Introdução

 

         Vários processos são monitorados através da observação do número de ítens não-conformes gerados pelo processo ou através da proporção de ítens não-conformes. Neste caso, temos  a situação clássica do tipo de resposta binária: X=0 ("passa") e  X=1 ("não passa"), sendo portanto o "número total de defeituosos" do processo ou de uma amostra do processo visto como tendo uma distribuição Binomial. A metodologia de estatística clássica para estas situações é a construção de gráficos de controle cujos limites são determinados através da aproximação da distribuição Binomial pela distribuição Normal, o que pode ser feito sob determinadas condições, ou através do uso da distribuição de Poisson (Montgomery, 1996).

        Para processos com um número de defeituosos bem próximo de zero os gráficos de controle fundamentados nesta metodologia clássica têm pouca utilização prática uma vez que devido ao baixo valor da proporção de defeituosos as correções que são efetuadas nos limites de controle via distribuição normal ou via distribuições exatas de  Binomial e Poisson criam dois problemas: no primeiro caso a ocorrência de "alarmes falsos" aumenta consideravelmente e no segundo os limites de controle são sempre próximos de zero ou 1, o que inviabiliza o uso prático dos gráficos. Alguns trabalhos interessantes que abordam formas alternativas de monitorar o processo neste caso, são: Goh & Xie (1995),  Xie & Goh (1992 ), Xie et. al. (1995), Lai, Xie & Govindaraju (2000). Um outro problema refere-se a situações nas quais as unidades amostrais são correlacionadas. A teoria clássica de controle de qualidade assume que as unidades amostrais (ou seja os itens produzidos) são independentes em relação ao estado de ser "conforme"ou "não conforme". No entanto, esta suposição nem sempre é válida. Em Alwan e Roberts (1995) é mostrado que a correlação entre unidades amostrais aparece com uma frequência bem maior do que se pensa. Na realidade a correlação entre as unidades amostrais no que se refere a variável resposta em estudo, tende a 1 quando o intervalo entre inspeções tende a zero. Deste modo, uma das alternativas sugeridas para tratamento da correlação é um maior espaçamento entre as unidades amostrais (ou grupos racionais) selecionadas para inspeção. No entanto, esta alternativa pode ocasionar grandes perdas financeiras uma vez que pelo fato de se espaçar demais as inspeções demora-se mais para se detectar um problema no processo, ou uma falta de controle no processo.

        Outras formas de se tratar a existência de correlação é através do monitoramento do processo utilizando-se modelos estatísticos que permitem a introdução da correlação. A primeira delas refere-se ao trabalho de Bhat & Lal (1990) no qual os autores desenvolveram os limites de controle para monitoramento de atributos de processos correlacionados usando a teoria de Cadeia de Markov (Broadbent,(1958), Bhat & Lal, (1988), sendo que uma modificação foi sugerida por Lai, Xie & Govindaraju (2000) para processos com baixa fração de defeituosos. Uma outra proposta é aquela sugerida por Lai, Govindaraju & Xie (1998). Neste caso, aos autores sugerem o uso do modelo Binomial Generalizado, ou equivalentemente Binomial Correlacionado de Madsen (1993) para monitorar o processo, sendo que sob este modelo a estatística "número de ítens conformes testados até a aparição do primeiro ítem não-conforme" teria uma distribuição geométrica correlacionada. Em seu artigo Lai, Govindaraju & Xie (1998) mostraram os resultados de um estudo sobre o erro do tipo II (ou seja dizer que o processo "está sob controle" quando na realidade "não está") em situações nas quais o modelo probabilístico Binomial Generalizado é usado para o tratamento do número de ítens não-conformes do processo. Neste trabalho a correlação entre as unidades amostrais é suposta ser uma constante igual para todas as unidades e o estimador proposto para o coeficiente de correlação é o de Madsen (1993).

         A diferença entre estas duas metodologias é bem clara. No caso de Cadeias de Markov presume-se a inspeção serial das unidades do processo, e portanto temos que manter a informação sobre o estado de cada item (isto é se é "não conforme" ou "conforme"), na sequência exata em que foi inspecionado. Já no modelo Binomial Generalizado a informação necessária para sua implementação é aquela relacionada com o grupo racional, ou seja, amostras de itens do processo são inspecionadas e em cada amostra apenas o número de "não-conformes" precisa ser guardado.

         Em ambas as metodologias, tanto na Cadeia de Markov quanto no modelo Binomial Generalizado, a estimação do coeficiente de correlação tem um papel fundamental.  Bhat & Lal (1990) mostram como estimar o coeficiente de correlação no caso de Cadeias de Markov. Lai, Xie & Govindaraju (2000) mostraram propriedades do estimador proposto e a construção de intervalos de confiança para a correlação teórica do processo. 

          Para o modelo Binomial Generalizado o estimador de correlação utilizado tem sido o de Madsen (1993). Novos estimadores paramétricos, não-paramétricos e Bayesianos foram propostos recentemente por Mingoti (2002) e implementados no programa SCAP - Statistical Control for Autocorrelated Processes - módulo AI.

         O programa computacional SCAP - módulo AI (Attribute Inspection) foi desenvolvido por Mingoti & Carvalho (2001) com a finalidade de implementar os modelos estatísticos de Cadeia de Markov e Binomial Generalizado para o monitoramento de processos autocorrelacionados. O usuário pode estimar os parâmetros do processo tanto no caso de dados sequencias quanto agrupados e pode construir os gráficos de controle de Shewhart para a proporção e número de "não conformes" do processo. A proporção de defeitos pode ser estimada no programa ou pré-especificada pelo usuário. O programa SCAP funciona acoplado ao software estatístico Minitab for Windows e tem uma boa velocidade de processamento. A macro que implementa os procedimentos de estimação é chamada de scapai.mac.

          Algumas referências interessantes sobre processos autocorrelacionados são: Nelson (1994), Stimson & Mastrangelo (1996), Mingoti & Fidelis (2001), Sampath Kumar & Rajarshi (1987) e Neves & Mingoti (2001) & Mingoti (2003).

        Para maiores detalhes técnicos sobre os estimadores que estão implementados no SCAP - módulo AI o usuário deverá olhar com cuidado o manual do usuário no qual  também encontrará exemplos de aplicação bem documentados.  

 

 

Referências Bibliográficas  

 

1. ALWAN, L. C. e ROBERTS, H. V. The Problem of missplaced control limits. Applied Statistics, JRSS, Series C, 44, 3, 269-278, 1995.      

        

2. Bhat, U.N. & Lal, R. (1990) Attribute control charts for Markov dependent production processes, IIE Transactions,22,2,181-188.   

 

3. Bhat, U. N. &  Lal, R. (1988) Number of success in Markov trials. Advanced Applied Probability, 20, 677-680.   

 

4. Broadbent, S. R. (1958) The inspection of a Markov process. Journal of Royal Statistical  Society, Series B, 20,111-119.   

 

5. Goh, T. N. e Xie, M. (1995) Statistical process control for low nonconforming processes,   International Journal of Reliability  Quality and Safety Engineering, 2, 15-22.     

 

6. Lai, C. D., Govindaraju, K. e Xie, M. (2000) Study of a Markov model for a high-quality   dependent process, Journal of Applied Statistics, 27, 4,  461-473.

 

7. Lai, C. D. & Xie, M Govindaraju, K. & Xie, M. (1998) Effects of correlation on fraction   nonconforming statistical process control procedures, Journal of Applied Statistics, 25, 4, 535-543.

 

8. Madsen, R. W. (1993) Generalized binomial distributions, Communications in  Statistics: Theory  and Methods, 22, 3065-3086.     

9. MINGOTI, S. A., CARVALHO, J.P.(2003) A cadeia de Markov no monitoramento, via inspeção por atributos, de processos autocorrelacionados: o programa SCAP-módulo AI. Anais do XXIII ENEGEP, Ouro Preto, Minas Gerais, (disponível para download).

10.Mingoti, S. A. &  Carvalho, J.P. (2002) O Programa SCAP para monitoramento de processos autocorrelacionados e inspeção por atributos. Atas da III Jornada Regional de Estatística e  II Semana de Estatística , Universidade Estadual de Maringá, 124-132. (disponível para download)   

11.Mingoti, S.A. (2003) A note on the sample size required in sequential tests for the generalized binomial distribution. Journal of Applied Statistics, 30, 8, 873-879.     

12.Montgomery, D. C. (1996) Introduction to statistical quality control. New York:   John  Wiley.   

13.Nelson, L. S. (1994)  A control chart for parts-per-million noncomforming itens. Journal of  Quality Technology, 19, 239-240.   

14.Sampath Kumar, V. S. &  Rajarshi, M. B. (1987) Continuous sampling plans for markov-dependent production process, Naval Research Logistics, 34,  629-644.   

15.Sprent, P. (1989) Applied Nonparametric statistical methods. New York: Chapman Hall.   

16.Stimson, W. A. & Mastrangelo, C. M.  (1996) Monitoring serially dependent process with  attributes data, Journal of  Quality Technology, 28, 279-288.

17.Xie, M. e Goh, T. N. (1992) Some procedures for decision making om high-yield processes, Quality and Reliability Engineering International, 8, 355-360.

18. Xie, W. , Xie, M. & Goh, T. N. (1995) Control charts for processes subject   to random shocks, Quality and Reliability Engineering International, 11, 355-360.